Professor Fábio Cantizano, especialista em marketing para o mercado fitness.
Fabio Cantizano CREF: 16603-G/RJ – Esp. em Marketing para Negócios Fitness

O mercado fitness está aquecido? Claro que está! Mas devemos lembrar que ele não é composto apenas pelas academias, estúdios e clubes esportivos.

Treinos online dentro de casa, lojas de materiais esportivos e equipamentos residenciais, além de produtos físicos que prometem resultados milagrosos, combatem diariamente ações estratégicas de negócios locais que pregam saúde, aptidão física e bem-estar, como as academias, estúdios e afins.

Matéria sobre obesidade no mundo, publicada na revista the lancet e divulgada pelo portal metrópoles

Uma pesquisa publicada pela revista The Lancet, divulgada no portal Metrópoles, alerta sobre o perigo da obesidade em futuro próximo.

Atenção aos dados:

  • 60% dos adultos do mundo terão sobrepeso ou obesidade até 2050;
  • Um terço das crianças e adolescentes viverá com sobrepeso ou obesidade nos próximos 25 anos;
  • Até 2050, China, EUA e Índia continuarão liderando a lista;
  • O crescimento mais significativo tende a ser na África Subsaariana, com aproximadamente 250% de crescimento no período.

O que esses dados nos mostram?

Sempre nos prendemos aos dados da IHRSA sobre percentual da população em academias, assim como faturamento e taxa de penetração em negócios locais. Pense comigo a partir de agora. ok?

Estados Unidos da América como o maior mercado

Há anos os EUA lideram o mercado fitness em número de academias, faturamento e outros dados que consolidam a nação como referência mercadológica. A prova disso é a quantidade de países que copiam fielmente estratégias de marketing adotadas lá, mesmo com leis e tributos diferentes.

Mesmo sendo o primeiro colocado, ainda está na ponta como um país com altíssima taxa de obesidade, dada a qualidade da alimentação e inatividade física de boa parte da população.

Vamos aos fatos:

  • Ser o país com o maior mercado do mundo não diz nada sobre a missão de quem trabalha com exercício físico. EUA tem a maior quantidade de academias e negócios afins e também uma das maiores taxas (ou a maior) de obesidade no mundo;
  • Ser o maior mercado fitness não é sinônimo de população saudável, visto que o foco pode estar sendo dado ao condicionamento físico ou estética, não para a saúde em geral;
  • No Brasil somos reconhecidos como área da saúde, mas teimamos em copiar estratégias de marketing e modelos de negócios de um dos países mais obesos do mundo, mesmo com percentual maior da população dentro das academias, se compararmos ao Brasil. Controverso?

Crianças e adolescentes com sobrepeso no mundo

Cada vez mais a alimentação das crianças e adolescentes está “prática” e com menos qualidade, seja pela falta de tempo em preparar ou até mesmo por atribuirmos mais valor ao tempo economizado do que à qualidade.

Se temos crianças menos ativas, é por conta de uma cultura enraizada de falta de movimento. Crianças e adolescentes têm seus exemplos em casa. Nem todos têm condições financeiras de frequentarem uma academia, mas piora ainda mais quando os pais não dão o exemplo.

Muitos reclamam da pouca atividade física dentro da escola, sugerindo maior carga horária semanal de educação física. Por mais que uma quantidade maior de movimento seja saudável, uma alimentação pobre em nutrientes somada aos demais hábitos prejudiciais continuarão contribuindo para aumento do número de obesos.

Fatos:

  • Os negócios que mais tentam atrair crianças e adolescentes são escolinhas esportivas, não as academias;
  • Pouquíssimas academias executam ações de marketing para atrair crianças e adolescentes;
  • Ainda não vi canais digitais de academias fomentando a prática de exercícios físicos entre familiares, utilizando dados estatísticos sobre saúde mundial para embasar a recomendação;
  • O marketing de conteúdo fitness no Brasil tem como foco a estética, atendendo demanda criada por médicos e pela mídia de massa. Negócios fitness não criam demanda no Brasil com conteúdos educacionais com foco em conscientização.

Crescimento mundialmente desenfreado

Por mais que o crescimento da obesidade seja mundial, precisamos nos atentar ao fato de que em cada país o comportamento do consumo é diferente, assim como a sensibilidade e percepção nas campanhas de marketing.

A obesidade é uma doença crônica não transmissível que requer tratamento multidisciplinar. Embora as academias ofereçam uma das melhores ferramentas para saúde e qualidade de vida, que é o exercício físico orientado, outros fatores precisam ser considerados para o emagrecimento da população.

Para muitos a obesidade é incômodo por não estar dentro dos padrões estéticos da sociedade, mas vai muito além do espelho.

A obesidade funciona como precursora de uma bomba relógio. Ela causa ou agrava doenças não transmissíveis como alguns tipos de câncer, doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, lesões articulares, problemas respiratórios, entre outras.

É muito mais grave do que imaginamos

As doenças causadas ou agravadas pela obesidade são tratadas pelos seus especialistas de forma isolada, em vez do tratamento ter como foco a obesidade.

Se as academias não abordarem em seus canais digitais, e também na prática em campo, todos os fatores que influenciam a obesidade e o processo de emagrecimento, deixarão de ser protagonistas e manterão o papel coadjuvante no processo.

Insistir na ideia de que é “apenas promover déficit calórico” nos coloca em uma posição muito abaixo da que podemos atingir.

A prova de que vivemos uma crise mercadológica no fitness, mas nem todos estão prontos para esta conversa

Há anos temos uma taxa de penetração em academias entre 4 e 5%, mesmo com abertura de várias academias ao longo dos anos. Acompanho nosso mercado dia a dia, testemunhando inúmeras inaugurações e milhões em investimentos para movimentar o mercado.

Mesmo com uma população maior do que 10 anos atrás e com maior número de academias, o percentual de pessoas praticando exercícios dentro das academias e negócios afins hoje é aproximadamente o mesmo, lembrando que boa parte da população se exercita hoje em dia em casa, ao ar livre ou com acompanhamento de profissionais online, mas não dentro de negócios como o seu (caso seja dono de academia).

O que essa reflexão nos traz?

  • Se o percentual é mais ou menos o mesmo, significa que precisamos melhorar essa proporção para, de fato, dizermos que o mercado está aquecido para academias e negócios afins;
  • Quanto mais academias abrem, mais dinheiro ganham os fabricantes de equipamentos, mas isso não traduz mais dinheiro no bolso do dono da academia, já que a a taxa de penetração da população é aproximadamente a mesma há anos;
  • Com estratégias eficazes na internet, profissionais não dependem mais de academias para aumentarem consideravelmente seus rendimentos, já que os melhores não se submetem mais aos salários das academias (crise de mão de obra?);

Onde está sua academia no meio desse cenário, gestor?

A mídia não cansa de divulgar dados alarmantes sobre obesidade no mundo. O motivo é óbvio: O desespero atrai mais cliques do que a felicidade, concorda?

Não atender essa demanda reprimida é o maior sinal de crise para academias, não para profissionais de educação física que investem em grupos especiais e marcas de equipamentos.

Lembre-se, a obesidade carrega com ela uma lista enorme de outras doenças que também são causadas pelo estresse e outros fatores além da obesidade. O brasileiro dificilmente estará livre do estresse em geral.

Sendo assim, responda:

  • Sua academia ensina nos canais digitais sobre todos os fatores que influenciam a obesidade, assim como cada passo no processo de emagrecimento, mesmo que não seja apenas o exercício físico?
  • Se entrar hoje em sua academia um homem de 52 anos, tendo feito cirurgia bariátrica há 2 meses, tomando remédio para pressão, diabetes e colesterol, ele conseguirá ser atendido com perícia por qualquer profissional de plantão na sala de musculação?
  • Sua academia tem condições de receber um adolescente obeso grau III, ajudando a gerenciar sua ansiedade e compulsão alimentar?
  • Caso a mãe desse adolescente obeso citado acima queira conversar com o professor da sua academia, ele saberá explicar todo o processo de emagrecimento, citando outras subáreas da saúde para auxiliar no processo, como médicos e psicólogos?

Gestor, não se irrite, ok?

Se você respondeu “Não” para todas as perguntas ou para apenas uma delas, está provado que há uma crise mercadológica nas academias e afins quando falamos de “Saúde para quem precisa de saúde”.

Se somos da área da saúde, devemos ter competência para ajudar quem realmente precisa da saúde. Precisamos ajudar quem precisa a resgatar a dignidade através do movimento orientado de forma sistematizada.

Dizer que exercício é bom para emagrecer, qualquer um pode dizer, mesmo que a pessoa não tenha formação na área da saúde. Quem é da área sabe como conduzir o passo a passo, gerar confiança e segurança. Somente profissionais conseguem executar essa missão.

Está aquecido mesmo?

O mercado fitness está aquecido, mas analisando a proporção da sociedade dentro das academias (taxa de penetração), ticket médio dos modelos de negócios e as constantes ações para “apagar incêndio” ou “disputar preços” com as Low Cost, ouso dizer que as academias estão estagnadas!

Gestor, posso não ter sido simpático nesse texto, mas meu compromisso é com a verdade. Só encara ela quem deseja triunfar! Vem comigo!