
TJ de São Paulo condena academia a pagar 5000 Reais de indenização a uma mulher que fez treino experimental, mas teve sua matrícula negada.
Tempo de leitura: 6 minutos. Vamos em frente?
A alegação: Ela não podia realiza o Exercício Stiff na área onde realizou, expondo seu corpo aos olhares dos homens, podendo causar constrangimento.
O exercício executado pela aluna é o representado na imagem abaixo:

Essa é a matéria que foi divulgada por diversos canais, dentre eles o link em destaque aqui.
O que devemos saber sobre este exercício, particularmente?
- Excelente exercício para posteriores de coxa, que mobiliza diversos outros grupos musculares como estabilizadores e secundários;
- É um exercício seguro, desde que feito por quem domina a técnica e seja orientado(a) por profissionais de educação física qualificados e experientes;
- Deve ser praticado em local seguro, evitando acidentes com o praticante e os demais ao redor, mesmo que os demais não tenham experiência em “trânsito” na sala de musculação;
- Não interessa se ele mostra atributos físicos ou que possa provocar a imaginação dos homens e mulheres. O exercício deve ser executado com segurança para todos.
A alegação da academia
Ela não poderia realizar o exercício onde estava, pois haviam homens que poderiam ficar olhando, desconcentrando-os, gerando um clima nada agradável.
A academia, inclusive, deixou claro que preferia “perder o dinheiro da matrícula a tê-la como aluna”.
Quando mencionei acima o “Local seguro” para a prática, a proteção contra assédios também entra na lista. Por mais que muitas mulheres não se importem em fazer o exercício na frente dos homens, é obrigação da academia protegê-las de possíveis situações que as coloquem em evidência.
Nesse caso, especificamente, entendo que a academia citada trata os homens como vítimas, como se estivessem sendo importunados pela provocação sensual da potencial cliente ao realizar o Stiff. Também entende dessa forma?
ERRO GRAVDE DA ACADEMIA culpar a praticante.
O que o juiz entendeu?
O relator Desembargador Monte Serrat destacou que a academia não informou, antes do início da prática de qualquer exercício na academia, regras de conduta ou para execução de determinados exercícios, e também não juntou na alegação documentos que comprovassem essa prévia instrução.
Mesmo que a regra fosse para proteger os homens da possível importunação, só pelo fato dela ficar mais exposta ao realizar um determinado exercício, não caberia. Há formas de evitar possíveis constrangimentos, principalmente na proteção da praticante.
Foi entendido pelo juiz como ato discriminatório, condenando a academia a pagar uma indenização de 5000 Mil reais para a potencial cliente.
A importância das regras
O fato da sala de musculação ser caracterizada por um ambiente heterogêneo, um pouco mais “largada” com relação ao monitoramento de condutas (se compararmos com natação, aulas coletivas e artes marciais), prova que há maior necessidade de normas, monitoramento e ação efetiva (preventiva) para impedir frequentadores de fazerem o que desejam, inclusive assediarem outros clientes.
As regras precisam:
- Mitigar riscos de acidentes;
- Promover bom convívio entre todos;
- Zelar pela segurança de todos em termos de imagem e importunação;
- Precisam ser colocadas em prática com frequência para inibir qualquer tentativa posterior de descumprimento;
- Prevenção em caso de clientes mal intencionados, sejam homens/mulheres importunando uns aos outros ou ambos explorando atributos físicos ao gravarem vídeos para internet, com outros frequentadores ao fundo (que desejam sua proteção enquanto empresa).
O que a academia deveria ter feito de imediato ao receber a potencial cliente?
Assim que entrou na academia, deveria ter apresentado as regras de conduta. Mesmo que a potencial cliente se mostrasse incomodada em ler, deveria insistir. Caso a academia não quisesse insistir, deveria apresentar ao professor do horário para que este conduzisse a jornada dela no espaço da seguinte forma:
- Anamnese básica para entender os objetivos e nível de treinamento da potencial cliente;
- Que rotina ela iria treinar naquele dia, para avaliar onde poderia realizar determinados exercícios e com que equipamentos;
- Controlar qualquer ação diferente das orientações prévias em relação ao espaço.
Mesmo que a cliente fosse profissional de educação física, atleta experiente e que não precisasse de monitoramento técnico, a sala de musculação da academia tem regras que precisam ser cumpridas, independentemente do conhecimento aprimorado dela, pois nem sempre quem é experiente se preocupa com os demais presentes, além da eficácia do seu treino.
ATENÇÃO: Isso caberia no monitoramento dessa cliente ou qualquer outro que estivesse experimentando o espaço, ok? É para todos, em todas as faixas etárias, gêneros e níveis de treinamento.
Como colocar e prática em sala
Espaço específico
Determine um espaço específico para realização de determinados exercícios que possam expor os clientes, como Stiff, Levantamento terra, Remada Curvada com barra, 4 apoios, enfim, você deve ter essa lista.
Algumas academias Low Cost, com alto fluxo de pessoas por horário, já adotaram essa medida de forma bem inteligente.
O espaço pode ser demarcado e sinalizado para que todos cumpram, evitando:
- Trânsito em sala com equipamentos que não deveriam sofrer deslocamentos;
- Acidentes com pessoas distraídas ou inexperientes ao passarem pelo local durante a execução. O local não pode ser passagem;
- Espelho lateral e não de fundo, de forma que o(a) praticante possa conferir apenas a execução, sem tanta exposição dos seus atributos.
Comunicação
- Nas regras de conduta, informe que a sala de musculação tem sinalizações orientando onde cada exercício pode e deve ser realizado. Em caso de dúvidas, perguntar ao profissional de plantão sobre o que pode ou não ser realizado em todo o espaço;
- Placa orientando que determinados “exercícios com barra” devem ser realizados naquele espaço;
- Os equipamentos disponíveis no local não podem ser utilizados em outro espaço.
A segurança da execução (acidentes) também protege contra importunação nas duas vias.
Os profissionais
- O monitoramento do espaço é de responsabilidade do professor, logo, deverá ser treinado para agir sempre que necessário. As normas precisam ser claras e devem servir de base para treinamentos operacionais;
- Os profissionais deverão saber como agir, caso um cliente não concorde em seguir as normas;
- A gestão deverá estar ao lado do profissional, sempre, quando esse tipo de impasse ocorrer.
A sua marca tem valor
Quando você cria regras claras e faz com que elas sejam colocadas em prática para proteger os clientes e profissionais, automaticamente protege sua marca em termos de posicionamento de mercado.
Posicionamento de mercado tem a ver também com a forma que as rotinas de treino são executadas dentro do seu espaço. O fato da musculação ser mais vulnerável do que as demais modalidades prova isso.
Imagine um importunador sexual ou qualquer outro cliente que só foca em seu treino, ignorando o bem-estar dos demais, dizendo: “Não vou treinar nessa academia. Lá não consigo fazer nada, cheia de regrinhas…”, optando automaticamente pelo seu concorrente, seria um sonho, não?
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