
CREF: 16603-G/RJ –
Esp. em Marketing para Negócios Fitness
Francineide Pereira, uma mulher de aproximadamente 40 anos, protagonizou um episódio triste em uma academia na Bahia. A mesma teve um mal súbito e veio a falecer. O fato de ter acontecido em uma academia nos coloca em “xeque” enquanto ambiente de saúde monitorado por profissionais da saúde.
Ao analisar as postagens das mídias de massa e também das mídias de bairro sobre o ocorrido, me deparo com comentários de leigos que colocam as academias de ginástica como verdadeiras vilãs.
Sabemos que não são vilãs, mas realmente precisamos rever processos para que males como este sejam tratados com a velocidade e competências necessárias.
Comentários vistos em redes sociais sobre o ocorrido
- “Não tinha ninguém ali preparado para salvar a mulher? Sempre digo que temos que treinar em academias com profissionais preparados e com desfibriladores”;
- “Treinar em jejum não é opção”;
- “Se tivessem feito os primeiros socorros, talvez estivesse viva”;
- “Também, a academia não pede nenhum exame antes da matrícula”;
- “Professor estava onde, ajudando uma gostosa na esteira?”
- “Isso e que dá ficar tomando esses pré-treinos de cafeína e outras substâncias”, entre outros comentários.
Os comentários acima provam que
- A população não faz ideia do que venha a ser um mal súbito;
- A população não faz ideia do que pode causar um evento como este, podendo ser na cozinha de casa, na caminhada para o trabalho ou até mesmo discutindo com o cônjuge;
- As academias ainda tratam o treinamento físico como ferramenta para conquista da estética;
- Tudo relacionado ao desenvolvimento de uma boa saúde pode e deve ser abordado pelas academias em seus canais digitais, mesmo que o tema não esteja diretamente relacionado ao exercício físico. Se somos da saúde, qualquer coisa sobre o assunto é material didático para educarmos a população.
Como podemos mudar um pouco esse cenário nas academias?
Importância do treinamento e dos processos
Não se satisfaça apenas com o treinamento de Suporte Básico de Vida ofertado pelo CREF.
A cada 6 meses ou ao menos anualmente promova treinamentos de Suporte Básico de Vida para sua equipe, incluindo pessoal da recepção e manutenção. Todos precisam ter noção de como é a situação e deverão saber como agir.
Mesmo que recepcionistas e pessoal da manutenção não sejam responsáveis pelo socorro na presença de um profissional de educação física, eles podem dar suporte logístico, facilitar a comunicação com SAMU e também acalmar ânimos de quem está em volta atrapalhando, tornando o ambiente mais seguro.
Atribua responsabilidades a cada membro do horário, incluindo quem não é da sala de musculação. Caso aconteça algum acidente ou mal súbito na academia:
- Quem será o líder do socorro?
- Quem será responsável por pegar equipamentos para dar suporte ao socorro?
- Quem afastará curiosos?
- Quem será responsável por ligar para o SAMU?
Tendo esses processos bem descritos e treinados, a chance de salvar a vítima se multiplica.
Fale sobre saúde, independentemente da área
Por mais que sejamos da área da saúde, muita gente ainda julga nossa atuação, atribuindo nossos conhecimentos às áreas de estética, esporte e lazer, mesmo essas áreas estando dentro da saúde.
Se sua academia fala mais sobre como aumentar coxas e não como a massa muscular de membros inferiores pode reduzir chances de desenvolvimento de demência, veremos claramente o foco da comunicação na estética.
Se sua academia fala sobre secar barriga para ir sem preocupações na orla, mas não sobre perder barriga para reduzir chances de infarto, desenvolvimento de esteatose hepática ou outra doença não transmissível, o foco na estética ainda estará claro.
Diversos fatores influenciam os resultados dos praticantes, como alimentação, estado mental, frequência semanal na academia, tempo disponível, entre outros.
Sugestões:
- Faça parcerias com outros profissionais da saúde que não atuam com exercícios, mas que ajudam as pessoas a manterem o foco em hábitos saudáveis;
- Já vi palestrante sobre gestão do tempo em evento de academia, ajudando alunos a organizarem as tarefas do dia para sobrar tempo para os exercícios físicos;
- Organize eventos educacionais na sua academia, incentivando clientes a trazerem familiares e amigos para aprenderem sobre saúde e qualidade de vida;
- Publique conteúdos sobre saúde e qualidade de vida, não apenas sobre estética nos canais digitais da academia;
- Não restrinja as publicações aos canais digitais. Use murais para divulgação de pequenos artigos em forma de alerta, tendo estatísticas como base para incentivo;
- Treine seus profissionais para falarem sobre saúde.
Foque o treinamento da equipe na saúde
Guarde uma coisa em mente: Seus profissionais amam hipertrofia muscular, treinamento funcional e emagrecimento (sem riscos). Não promova treinamentos nessa área, se deseja atender pessoas que realmente buscam saúde e qualidade de vida. Invista em:
- Treinamentos para grupos especiais, com foco em cardiopatias, diabetes, hipertensão, bariátrica, entre outros;
- Treinamento de oratória para seus colaboradores criarem conteúdos em vídeos para sua marca;
- Criar metodologia para cuidar de clientes que desejam melhorar a saúde, estando em situações de risco;
- Tenha aparelhos de pressão disponíveis em cada setor da academia, assim como medidores de glicose. É injustificável ter que sair correndo para pegar chave na recepção buscar esses equipamentos na sala de avaliação, concorda?
Incentive cuidados pessoais
O Questionário PAR-Q é usado na maioria das academias como um mitigador de riscos e barreira quase nula de entrada, sendo que algumas cidades ele basta para matricular o cliente, desde que não haja respostas “sim” nas perguntas. Nesse caso, a academia poderá solicitar atestado médico.
Considerações:
- Atestados médicos têm validade apenas para a especialidade de quem o emite. Se o cardiologista atesta que o paciente pode praticar exercícios, certamente estará se referindo apenas ao ponto de vista cardiológico. O atestado dele não vale, do ponto de vista lógico, para lesões na coluna, por exemplo;
- O fato da pessoa trazer um atestado com laudos de exames não elimina risco de mal súbito, mesmo que a pessoa esteja bem e sem restrições;
- Atestados têm validade de 1 ano na academia, mas se perguntar para o médico a real validade do documento, muitos dirão que vale até a saída do paciente do consultório.
O que fazer?
Se pressionarmos demais o cliente a se consultar com especialistas, certamente criaremos uma barreira enorme de entrada no mundo dos bons hábitos e prática de exercícios orientados. É como se equilibrar em uma corda em uma altura de 100m.
- Não fale apenas para a pessoa trazer atestado em caso de necessidade, incentive a visita ao médico periodicamente para prevenção e avaliação da evolução por conta da prática regular de exercícios;
- Incentive o cliente a buscar ajuda de médicos de diversas especialidades, pois apenas cardiologista e endocrinologista não dão conta de todo o corpo humano;
- Tais incentivos e importância de cada recomendação dão base para ao menos um post diário no plano de marketing de conteúdo da sua academia. Certamente sufocaria postagens sobre estética, podendo, até mesmo, trazer para seu ambiente aqueles que mais precisam da nossa intervenção.
Lamento muito a morte da Sra. Francineide. Por mais que seja uma situação quase inevitável, muitos outros casos que causam abandono da prática de exercícios poderiam ser bem administrados com bons processos de atendimento e educação voltada para saúde em geral. Isso tudo pelos canais da sua academia.
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